Dossiê educação e tecnologias no ensino e aprendizagem: reflexões e possibilidades

Autores

  • José Luis Bizelli Universidade Estadual Paulista, SP.
  • José Anderson Santos Cruz Universidade Estadual Paulista, SP.
  • Thaís Conte Vargas Universidade Estadual Paulista, SP.

DOI:

https://doi.org/10.18316/rcd.v9i18.4353

Palavras-chave:

Educação. Tecnologia. Aprendizagem. Ensino.

Resumo

Education and technologies in teaching and learning dossier: reflections and possibilities

Dizer que o mundo atual está mediado por um conjunto de inovações tecnológicas que reconstroem formas com as quais nos relacionamos com o universo concreto humano e das coisas parece saturado de conteúdo explicativo, redundante mesmo, hipérbole, exagero. Pela tecnologia percebemos o ambiente em que vivemos e criticamos a percepção dos outros, criamos e destruímos signos, interpretações e culturas; encontramo-nos escondidos por artifícios digitais que já não nos são estranhos, posto que se incorporaram ao que somos; vivemos, enfim, através da falsa sensação de exercitarmos a nossa liberdade na virtualidade digital.

Pode parecer que o germe tecnológico por contágio nos permita a esperança de redesenhar a vida construída historicamente – o sonho, por exemplo, de aprendizagem imediata através de uma conexão entre cérebro e rede de informação, como em Matrix. O fim da escola, o fim do esforço para aprender, da labuta para ensinar, e a literacia sobre todas as linguagens: as letras, as línguas, as ciências, os códigos dos computadores, as artes, as almas.

O mundo tecnológico nos desafia. Primeiro porque construção humana: Humani nihil a me alienum. Segundo porque frente ao Leviatã, nossa reação é de controle: navegar é preciso, viver não é preciso. É à dupla precisão que se voltam os trabalhos deste Dossiê que agora entregamos aos leitores: àquilo que precisamos enquanto educadores na era digital; àquilo que exige a precisão da análise, da reflexão, da crítica e da criação rumo à liberdade possível.

Ter acesso à tecnologia não significa apropriar-se dela. A apropriação é diretamente proporcional à literacia do usuário, a qual depende especialmente da familiaridade do educador com os meios tecnológicos. Dois diagnósticos antagônicos. Por um lado, se tomarmos pelo olhar dos vídeos educacionais, Arielly Kizzy Cunha, José Anderson Santos Cruz e José Luís Bizelli mapeiam os limites impostos pela relação profissional que se estabelece entre educadores e comunicadores. Por outro lado, Samanta Bueno de Camargo Campana, Eduardo Martins Morgado, Wilson Masasshiro Yonezawa e Edriano Carlos Campana demonstram a possibilidade pedagógica da transposição de jogos de tabuleiros para o formato digital, auxiliando no ensino de Matemática e criando uma produtiva relação entre educadores e desenvolvedores.

Já o artigo de Fernando Silva, Sebastião de Souza Lemes e Thaís Conte Vargas indica que mesmo quando se trata do acesso, a realidade brasileira deixa a desejar. Há barreiras estruturais tanto nos laboratórios como nas salas de aula; há barreiras atitudinais: falta de confiança entre atores; resistência à mudança, diante da técnica rotineira; falta de percepção de ganho sobre a inovação tecnológica; sobrecarga na jornada de trabalho; entre outros.

Mesmo diante de desafios nas condições materiais de construção de um lugar para o exercício pedagógico, a Escola resiste, embora seu espaço geográfico possa transportar-se para a virtualidade. É o que demonstra o texto de Anaisa Alves de Moura, Evaneide Dourado Martins e Anaclea de Araújo Bernardo, ao apresentarem a experiência do Instituto Superior de Teologia Aplicada – Faculdades INTA, particularmente no que concerne à produção de material didático com qualidade para cursos de graduação a distância.

Um espaço importante deste Dossiê está voltado à análise de experiências concretas de interação entre alunos, professores e meios tecnológicos em diferentes níveis educacionais. Assim, o esforço dos autores não pretende esgotar temas tão importantes, mas contribuir com outros estudos que vêm sendo desenvolvidos sobre a percepção que a Academia tem sobre o uso da tecnologia.

Cláudia Prioste analisa os possíveis impactos no processo de alfabetização através do uso dos dispositivos televisuais. A rotina de zapear já invadiu o campo pedagógico, cabendo à Escola orientar pais e crianças para melhor uso de dispositivos televisuais, ou seja, para ações de alfabetização que estimulem atenção, memória e persistência. Já o trabalho de Leandro Firmeza Felício e Suelen Santos de Morais voltou-se a medir a influência do uso de tecnologias em aspectos psicomotores, no ensino Fundamental I.

Duas escolas de nível médio – uma pública e outra particular –, da cidade de Bauru, constituíram-se enquanto campo de análise para Priscilla Aparecida Santana Bittencourt e João Pedro Albino estabelecerem um estudo comparativo sobre o uso de tecnologias em sala de aula. Os resultados demonstraram que é possível alargar o espaço da sala de aula através de recursos tecnológicos, facilitando o entendimento sobre os conteúdos e incrementando positivamente o processo de ensino-aprendizagem.

Os três artigos finais tratam do Ensino Superior. Elisabete Cerutti e Marcia Dalla Nora refletem sobre o uso pedagógico de recursos tecnológicos em cinco cursos de licenciatura – Matemática, Letras, Pedagogia, Ciências Biológicas e Educação Física – da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus de Frederico Westphalen. Ana Paula Torres, Leny André Pimenta e Maria Teresa Miceli Kerbauy analisam as aplicações efetivas das tecnologias de informação e comunicação entre alunos de graduação em Pedagogia, mestrandos, doutorandos e docentes do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras, Unesp Araraquara, concluindo que ferramentas digitais – como mediadoras do processo ensino e aprendizagem – englobam mais do que acesso, uso e apropriação de tecnologias e métodos para processos educativos: constituem-se enquanto construção social do conhecimento. Silvio Henrique Fiscarelli e Camila Lourenço Morgado (FCLAr/Unesp), e Flavia Maria Uehara (Ufscar), investigam o uso de Objetos de Aprendizagem (OA) como recursos de apoio a crianças com dificuldade no processo de alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Assim, esperamos contribuir com o debate presente nos dias de hoje sobre o papel das tecnologias na Escola. Agradecemos a oportunidade de ocupar este espaço Editorial e desejamos a todos uma boa leitura!

Biografia do Autor

José Luis Bizelli, Universidade Estadual Paulista, SP.

Doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, SP. Pós-Doutorado em Educação na Universidad de Alcalá de Henares, Espanha. Livre Docente em Gestão de Políticas Públicas da FCL/UNESP/Araraquara, SP. Professor e orientador nos Programas de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologias da FAAC/UNESP/Bauru e Educação Escolar da FCL/UNESP/Araraquara, SP.

José Anderson Santos Cruz, Universidade Estadual Paulista, SP.

Doutorando pelo PPG em Educação Escolar: Política e Gestão Educacional, FCLAr/UNESP, SP. Bolsista CAPES. Mestre em Televisão Digital: Informação e Conhecimento (Atual Programa de Pós-graduação Mídias e Tecnologias) pela FAAC-UNESP-Bauru, SP.

Thaís Conte Vargas, Universidade Estadual Paulista, SP.

Mestranda pelo PPG em Educação Escolar. Graduada em Administração Pública pela FCLAr/Unesp, SP.

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Publicado

2018-01-03

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