Impactos de feminicídios em familiares: Saúde mental, justiça e respeito à memória

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18316/redes.v10i2.7828

Palavras-chave:

Feminicídio, Familiares, Luto, Saúde, Sistema de Justiça.

Resumo

Trata-se de pesquisa na área vitimologia de método quanti-qualitativo de análise documental de 34 processos judiciais de feminicídios consumados ocorridos no Distrito Federal, entre 2016 e 2017 e entrevistas semiestruturadas a 21 familiares de vítimas. Objetivou-se analisar os impactos do crime nos familiares e suas percepções sobre o julgamento. Verificou-se que: a maioria dos familiares não foi contatada pelo sistema de justiça, apesar de conhecerem o histórico de violência; houve agravos na saúde mental; o crime obrigou à reorganização familiar; os filhos experienciaram tripla perda: morte da genitora, prisão do genitor, e separação dos irmãos; crianças e adolescentes foram expostos à cena do crime; o medo em relação ao agressor persistiu durante o processo; não houve acolhimento protetivo pelo sistema de justiça; houve queixas de revitimização e de violação à memória da vítima no julgamento e na cobertura midiática. Aponta-se a necessidade de aperfeiçoamento das políticas públicas para familiares das vítimas.

Biografia do Autor

Thiago Pierobom de Ávila, Centro Universitário de Brasília – UniCEUB Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Pós-Doutor em Criminologia, Universidade Monash, Melbourne, Austrália.

Doutor em Ciências Jurídico-Criminais, Universidade de Lisboa, Portugal.

Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, DF, Brasil.

Research Fellow do Monash Gender and Family Violence Prevention Centre, Melbourne, Austrália.

Investigador integrado do Instituto de Direito Penal e Ciências Criminais da Universidade de Lisboa

Promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, DF, Brasil.

Marcela Novais Medeiros, Núcleo de Estudos de Gênero e Psicologia Clínica – NEGENPSIC da Universidade de Brasília

Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília.

Membro do Núcleo de Estudos de Gênero e Psicologia Clínica – NEGENPSIC da Universidade de Brasília.

Psicóloga do CEPAV - Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília, DF.

C Chagas, Ministério Público da União

Mestre em Política Social pela Universidade de Brasília.

Analista do Ministério Público da União, Especialidade Serviço Social, Brasília, DF.

Elaine Novaes Vieira, Ministério Público da União

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Analista do Ministério Público da União, Especialidade Psicologia, Brasília, DF.

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2022-08-24

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Artigos