Vitimização anti-indígena e a rotulação social do ser negro no discurso jurídico: desafiando a criminologia e a colonialidade da justiça
DOI:
https://doi.org/10.18316/redes.v12i3.8228Keywords:
Branquidade, Criminologia contracolonial, Judiciário, Racismo institucional, Racismo estruturalAbstract
Este estudo busca compreender as relações entre a cultura institucional do judiciário brasileiro e o racismo estrutural, a partir de uma perspectiva criminológica contracolonial. Para isso, com o marco teórico articulado nos estudos pós-coloniais e contracoloniais, realizam-se análises críticas a respeito do colonialismo científico criminológico e seus reflexos no discurso jurídico. A pesquisa é qualitativa, com emprego do método descritivo, onde foram analisados dois casos judiciais, a partir dos quais foram travadas discussões étnicas-raciais envolvendo as violências institucionais e estruturais contra povos negros e indígenas. A conclusão, considerando a influência do colonialismo no ser, poder e saber, aponta para a urgência de que teorias criminológicas passem a considerar o processo histórico de escravismo e extermínio das populações negras e indígenas no país, sobretudo, a partir de uma epistemologia situada, de modo a confrontar os espaços institucionais que auxiliam na manutenção hegemônica de apenas um grupo no poder: homens brancos com poder aquisitivo.
References
AGOZINO, Biko. Imperialism, crime and criminology: Towards the decolonisation of criminology. Crime, Law and Social Change, v. 41, n. 4, p. 343-358, 2004.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. Revista Cs, p. 97-120, 2017.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Do paradigma etiológico ao paradigma da reação social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso comum. Revista Sequência, Florianópolis, v. 16, n. 30, p. 24-36, jun. 1995. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15819. Acesso em: 17 jan. 2021.
ARGOLO, Pedro; DUARTE, Evandro Piza; QUEIROZ, Marcos Vinicius Lustosa. A Hipótese Colonial, um diálogo com Michel Foucault: a Modernidade e o Atlântico Negro no centro do debate sobre Racismo e Sistema Penal. Universitas Jus, v. 27, n. 2, 2016.
BALLESTRIN, Luciana. O Sul Global como projeto político. Horizontes ao Sul, 2020. Disponível em: https://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/06/30/O-SUL-GLOBAL-COMO-PROJETO-POLITICO.
BALLESTRIN, Luciana. Modernidade/Colonialidade sem “Imperialidade? O Elo Perdido do Giro Decolonial. DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2017, vol. 60, n. 2, p. 505 a 540. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582017000200505&script=sci_abstract&tlng=pt.
BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias daetnicidade.Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: Editora UNESP, 1998. p. 185-227.
BEIRAS, Iñaki Rivera. La memoria. Categoría epistemológica para el abordaje de la historia y las ciencias penales. Crítica Penal y Poder, n. 1, 2011.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 183598. Paciente: Leonardo de Souza. Relator: Ministra Rosa Weber. Brasília, 01 de dezembro de 2020. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=456415
DEPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias: Atualização - Junho de 2017. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, DEPEN, 2019. Disponível em: http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-sinteticos/infopen-jun-2017-rev-12072019-0721.pdf. Acesso em: 17 jan. 2021.
BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Autêntica, 2013.
BISPO, Antonio. Colonização, Quilombos: modos e significados. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, 2015.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 5ª Vara Criminal da Comarca de Campinas, SP. Processo nº 0009887-06.2013.8.26.0114. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Lissandra Reis Ceccon. DJ: 04 jun. 2016. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/juiza-reu-nao-parece-bandido-branco.pdf. Acesso em: 07 jan. 2021.
BUDÓ, Marília De Nardin. Danos silenciados: a banalidade do mal no discurso científico sobre o Amianto/Silenced harms: the banality of evil in the scientific discourse on Asbestos. Revista Brasileira de Direito, v. 12, n. 1, p. 127-140, 2016.
BUDÓ, Marília de Nardin. Como uma epistemologia situada pode contribuir com os estudos sobre os crimes dos poderosos? In. Mentalidade inquisitória e processo penal no Brasil “diálogos sobre processo penal entre Brasil e Itália", COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; PAULA, Leonardo Costa de; SILVEIRA, Marco Aurélio Nunes da. Florianópolis: Empório do direito, v. 02, p. 214-227, 2017.
CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese de Doutorado, p. 277, 2005.
CARRINGTON, Kerry; DIXON, Bil; FONSECA, David; GOYES, David Rodríguez; LIU, Jianhong; ZYSMAN, Diego. Criminologies of the global south: Critical reflections. Critical Criminology, v. 27, n. 1, p. 163-189, 2019.
CARRINGTON, Kerry; DONNERMEYER, Joseph F; DEKESEREDY, Walter S. Interseccionalidade, criminologia rural e re-imaginando os limites da criminologia crítica. 2014.
CARVALHO, Salo de; GOYES, David Rodriguez; WEIS, Valeria Vegh. Politics and indigenous victimization: the case of Brazil. The British Journal of Criminology, v. 61, n. 1, p. 251-271, 2021.
CONNELL, Raewyn. Southern theory: The global dynamics of knowledge in social science. Routledge, 2020.
CONSELHO INDIGENISTA NACIONAL. Pai de Guarani Kaiowá assassinado no massacre de Caarapó é preso em ação policial. 13 dez, 2018. Disponível em: https://cimi.org.br/2018/12/pai-de-guarani-kaiowa-assassinado-no-massacre-de-caarapo-e-preso-em-acao-policial/
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Censo do Poder Judiciário: VIDE: Vetores iniciais e dados estatísticos. Brasília: CNJ, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/censo-do-poder-judiciario/. Acesso em: 15 jan. 2021.
COSTA, Sérgio. Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, 2006, vol.21, n.60, pp.117-134. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v21n60/29764.pdf. Acesso em: 01 nov. 2020.
FREITAS, Felipe. Novas perguntas para criminologia brasileira: poder, racismo e direito no centro da roda. Cadernos do CEAS: Revista crítica de humanidades, n. 238, p. 488-499, 2016.
DARKE, Sacha. Convívio e sobrevivência: coproduzindo a ordem prisional brasileira. Belo Horizonte: D’ Plácido, 2019.
DUARTE, Evandro Charles Piza. Diálogos com o “realismo marginal” e a crítica à branquidade: por que a dogmática processual penal “não vê” o racismo institucional da gestão policial nas cidades brasileiras?. Revista Eletrônica Direito e Sociedade-REDES, v. 8, n. 2, p. 95-119, 2020.
DU BOIS, William Edward Burghardt. A reconstrução negra na América: Um ensaio para uma história da parte que o povo negro desempenhou na tentativa de reconstruir a democracia na América, 1860-1880. Oxford University Press, 2014.
FERES JÚNIOR, João; PROGREBINSCHI, Thamy. Teoria Política Contemporânea: uma introdução. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. 2006.
GÓES, Luciano. Pátria exterminadora: o projeto genocida brasileiro. Revista Transgressões, v. 5, n. 1, p. 21, 2017.
GONZÁLEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.
GOYES, David Rodríguez. Green activist criminology and the epistemologies of the South. Critical Criminology, v. 24, n. 4, p. 503-518, 2016
HARDING, Sandra. Objectivity and diversity: Another logic of scientific research.
University of Chicago Press, 2015.
HARRIS, A. Foreword. In R. Delgado and J. Stefancic (eds.), Critical race theory: An introduction (pp. xvii-xxi). New York: New York University Press, 2001.
HILGERT, Caroline Dias; NOLAN, Michael Mary. Indígenas em conflito com a lei: a criminalização dos povos indígenas no Brasil através do judiciário. In: Congresso da Rede Latinoamericana de Antropologia Jurídica (Relaju). 2016.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2019. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2019. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html. Acesso em: 17 jan. 2021.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2019. Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica, Rio de Janeiro, n. 41, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.
JESUS, Genilson dos Santos de ((Taquary Pataxó). Existência e diferença: o racismo contra os povos indígenas. Revista Direito e Práxis, v. 10, n. 3, p. 2161-2181, 2019.
LAPIERRE, Jean William. Prefácio. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: Editora UNESP, 1998. p. 9-14.
MATE, Reyes. La razón de los vencidos. Anthropos Editorial, 1991.
MILANEZ, Felipe; SÁ, Lúcia; KRENAK, Ailton; CRUZ, Felipe Sotto Maior; RAMOS, Elisa Urbano; JESUS, Genilson dos Santos de ((Taquary Pataxó). Existência e diferença: o racismo contra os povos indígenas. Revista Direito e Práxis, v. 10, n. 3, p. 2161-2181, 2019.
MONDARDO, Marcos. Fronteira, conflitos e estado de exceção. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 63, n. 2, p. 64-84, 2018.
MONDARDO, Marcos; SEREJO, Ana Alice Cavalcanti; STALIANO, Pamela. Conflitos na luta pela terra e território em áreas de agronegócio: das violências, negligências e precariedades às manifestações e conquistas dos Guarani e Kaiowá. Geosul, v. 34, n. 71, p. 573-598, 2019.
MOREIRA, Erika Macedo. Onhemoirô: o Judiciário frente aos direitos indígenas. 2014.
n. 238, 2016.
NASCIMENTO, Abdias do. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Paz e Terra, p. 163, 1978.
PIRES, Thula Rafaela de Oliveira; LYRIO, Caroline. Racismo institucional e acesso à justiça: uma análise da atuação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro nos anos de 1989-2011. CONPEDI/UFSC; Mônica Bonetti Couto; Angela Araújo da Silveira Espindola; Maria dos Remédios Fontes Silva.(Org.). Acesso à justiça I. Florianópolis: CONPEDI, p. 513-541, 2014.
PIRES, Thula. 2017. Direitos humanos traduzidos em pretuguês. 13th Mundo de Mulheres & Fazendo Gênero 11, 1–12. Florianópolis: UFSC. http://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1499473935_ARQUIVO_Texto_completo_MM_FG_ ThulaPires.pdf. racismo mascarado: processo de um racismo mascarado. Paz e Terra, 1978.
PONTES, Fábio. Ministro do STF liberta fazendeiros acusados de morte de índio Guarani Kaiowá por “bom antecedente”. Amazonia Real: Manaus. Em 21, nov, 2016. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/ministro-do-stf-liberta-fazendeiros-acusados-de-morte-de-indio-guarani-kaiowa-por-bom-antecedente/.
PRANDO, Camila Cardoso de Mello. A Criminologia Crítica no Brasil e os estudos críticos sobre branquidade. Revista Direito e Práxis, v. 9, n. 1, p. 70-84, 2018.
RIBEIRO, Darcy. A Política Indigenista Brasileira. Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola: Rio de Janeiro, 1962.
SANTOS, Daniela dos. Quantas vidas valem um fuzil? Política de morte e violência racial-genderizada. In, PIRES, Thula Rafaela de Oliveira; FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Rebelião. Brasília: Brado Negro, Nirema, p. 114-123, 2020.
SARMIENTO, Camilo Ernesto Bernal et al. Para além da criminologia. um debate epistemológico sobre o dano social, os crimes internacionais e os delitos dos mercados / Más allá de la criminología. un debate epistemológico sobre el daño social, los crímenes internacionales y los delitos de los mercados. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 13, n. 3, p. 40-79, dez. 2017. ISSN 2238-0604. Disponível em: https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2323/1462. Acesso em: 11 jan. 2021. doi:https://doi.org/10.18256/2238-0604.2017.v13i3.2323.
LYRIO, Caroline; PIRES, Thula Rafaela de Oliveira. Teoria crítica da raça como referencial teórico necessário para pensar a relação entre direito e racismo no Brasil. Objetivos e metas de desenvolvimento do milênio da ONU: direitos dos conhecimentos. Florianópolis: Conpedi, 2015.
SILVA, Tédney Moreira da. No banco dos réus, um índio: criminalização de indígenas no Brasil. 2015. 242 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, 2015
SILVEIRA, Alexandre Marques. Dano social estatal-corporativo e a vitimização ocasionada pela exposição ao amianto na cidade de osasco-sp: um estudo criminológico a partir da representação das vítimas. Faculdade meridional – IMED. ppgd mestrado em direito, 2018.
WAGNER, Daize Fernanda. Identidade étnica, índios e direito penal no Brasil: paradoxos insustentáveis. Revista Direito GV, v. 14, n. 1, p. 123-147, 2018.
WEIS, Valeria Vegh. Por una criminología crítica verde del sur un analísis sobre selectividad penal, pueblos indígenas y daños ambientales en argentina. Revista crítica penal y poder, 2019, nº 16, mar. 53-74.
WERNECK, Jurema. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde e Sociedade, v. 25, p. 535-549, 2016.
YANO, Célio. Sentença diz que réu é criminoso “em razão da sua raça”; juíza se defende. Gazeta do povo, ago, 2020. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/juiza-curitiba-ines-marchalek-zarpelon-racismo/.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Copyright (c) 2024 Revista Eletrônica Direito e Sociedade - REDES

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Authors who submit their manuscripts for publication in the “REDES” Magazine agree to the following terms:
The authors claim to be aware that they retain copyright by giving “REDES” the right to publish.
The authors declare to be aware that the work submitted will be licensed under the Creative Commons Non-Commercial Attribution License which allows article sharing with acknowledgment of authorship and publication in this journal.
The authors declare to be aware that by virtue of the articles published in this journal have free public access.
The authors declare, under the penalty of the law, that the text is unpublished and original and that they are aware that plagiarism has been identified, plagiarized authors will be informed - willingly, to take legal action in the civil and criminal sphere - and, plagiarists will have their access to the magazine blocked.
The authors state that - in case of co-authoring - all contributed significantly to the research.
Authors are obliged to provide retractions and (or) corrections of errors in case of detection.
The authors are obliged not to publish the text submitted to “REDES” in another electronic journal (or not).
The Electronic Journal Law and Society - REDES - is licensed under a Creative Commons License. Attribution-NonCommercial 4.0 International.Based on work available at "http://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/redes/about/submissions#copyrightNotice".
Permissions in addition to those granted under this license may be available at http://creativecommons.org/.