Audiências de custódia e a gramática da punição: registros da teoria da racionalidade penal moderna na aplicação de medidas cautelares penais

Autores

  • Ana Clara Klink de Melo Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.18316/redes.v11i3.9384

Palavras-chave:

Prisão Preventiva, Medidas Cautelares, Racionalidade Penal Moderna, Audiências de Custódia

Resumo

O presente artigo, tendo como paradigma teórico a teoria da racionalidade penal moderna, propõe-se a pensar os entraves cognitivos colocados à liberdade provisória em casos que chegam às audiências de custódia brasileiras. Partindo da análise de 144 termos de audiências de custódia, a pesquisa permitiu constatar a reprodução em cadeia das diferentes teorias da pena na fundamentação da prisão preventiva e de outras medidas cautelares penais. Disso, depreende-se que o sistema de ideias que orienta o direito criminal moderno, ao orientar o discurso decisório no momento anterior à sentença condenatória, contribui para a reprodução de uma lógica de sanção antes que haja culpa formada e para a precariedade de medidas cautelares alternativas à prisão.

Biografia do Autor

Ana Clara Klink de Melo, Universidade de São Paulo

Mestranda em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e Graduada em Direito pela mesma universidade.

Referências

BACHELARD, Gaston. La formation de l’esprit scientifique, Paris, J. Vrin, 1975 [1938].

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Ed: Ridendo Castigat Mores, 1764.

BENTHAM, Jeremy. TADEU, Tomaz (org). O Panóptico. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

CAMARGO, Rodrigo Tellini de Aguirre. Audiência de custódia e medidas cautelares pessoais. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2019.

CAPPI, Ricardo. Racionalidade penal moderna, inovação e regressão: uma trilogia conceitual para distinguir as maneiras de pensar as respostas às condutas criminalizadas. In: FULLIN, Carmen; MACHADO, Maíra Rocha; XAVIER, Roberto Franco (Org.). A racionalidade penal moderna: reflexões teóricas e explorações empíricas desde o sul. São Paulo: Almedina, 2020.

DURKHEIM, Émile. Éducation et sociologie. Paris: Les Presses universitaires de France, 1968, 121 pp.

FULLIN, Carmen; MACHADO, Maíra Rocha; XAVIER, Roberto Franco (Org.). A racionalidade penal moderna: reflexões teóricas e explorações empíricas desde o sul. São Paulo: Almedina, 2020.

GARCIA, Margarida. La théorie de la rationalité pénale moderne : un cadre d’observation, d’organisation et de description des idées propres au système de droit criminel. In DUBÉ, Richard; GARCIA, Margarida; MACHADO, Maíra Rocha (org.), La rationalité pénale moderne : réflexions théoriques et explorations empiriques (pp. 37-72). Ottawa, Les Presses de l’Université d’Ottawa, 2013.

________. Novos horizontes epistemológicos para a pesquisa empírica em direito: “descentrar” o sujeito, “entrevistar” o sistema e dessubstancializar as categorias jurídicas. Revista de Estudos Empíricos em Direito, vol. 1, n. 1, 182-209, 2014. Disponível em: https://reedrevista.org/reed/article/view/13. Acesso em 01 dez. 2021.

HART, Herbert. O conceito de direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 3 ed. 1994.

INSTITUTO DE DEFESA AO DIREITO DE DEFESA - IDDD. Fim da liberdade: a urgência de recuperar o sentido e a efetividade das audiências de custódia. São Paulo: IDDD/ Open Society Foundation, 2019.

INFOPEN. Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) para dezembro, 2019. Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2019. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlN. Acesso em: 20 nov. 2021.

LOPES JR., Aury. Prisões Cautelares. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MACHADO, Maíra Rocha; PIRES, Álvaro et al. Atividade legislativa e obstáculos à inovação em matéria penal no Brasil. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Assuntos Legislativos, 2011. Disponível em: http://pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2015/07/32Pensando_Direito1.pdf. Acesso em 01 dez. 2021.

MACHADO, Maíra Rocha. De dentro para fora e de fora para dentro: a prisão – no cinema – na sala de aula. In; Sistema Penal & Violência. Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 103-116, jan.-jun. 2014. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/sistemapenaleviolencia/article/view/15851. Acesso em 01 dez. 2021.

MACHADO, Maíra Rocha; PIRES, Álvaro. Intervenção Política na Sentença do Direito? Os Fundamentos Culturais Da Pena Mínima. In: Novos Estudos Jurídicos, Itajaí, vol. 21, n. 3, set/dez, 2016. Disponível em: https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/9691/5442. Acesso em 01 dez. 2021.

PIRES, Álvaro. Aspects, traces et parcours de la rationalité pénale moderne, in C. Debuyst, F. Digneffe e A.P. Pires, A. P., Histoire des savoirs sur le crime & la peine 2. La rationalité pénale et la naissance de la criminologie (pp. 1-52). Bruxelles, De Boeck Université, 1998.

________. Naissance et développement d’une théorie et ses problèmes de recherche. In DUBÉ, Richard; GARCIA, Margarida; MACHADO, Maíra Rocha (org.), La rationalité pénale moderne : réflexions théoriques et explorations empiriques (pp. 289-323). Ottawa, Les Presses de l’Université d’Ottawa, 2013.

________. A Racionalidade penal moderna, o público e os direitos humanos. In: Novos Estudos. São Paulo, n. 68, p. 39-60, mar. 2004.

RAUPP, Mariana. As pesquisas sobre o Sentencing: Disparidade, punição e vocabulários de motivos. Revista de Estudos Empíricos em Direito. vol. 2, n. 2, jan 2015, p. 174-191. Disponível em: https://reedrevista.org/reed/article/view/81. Acesso em 01 dez. 2021.

SAAD, Marta. Assimilação das finalidades da pena pela prisão preventiva. Revista Eletrônica de Direito Penal, v. 1, n. 1. 2013. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redpenal/article/view/7151/5126. Acesso em 01 dez. 2021.

WRIGHT MILLS, Charles. Situated actions and vocabularies of motives. American Sociological Review, 5 (6), 904-913, 1940. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/2084524. Acesso em 01 dez. 2021.

XAVIER, José Roberto Franco. La réception de l’opinion publique par le système de droit criminel. Tese (Doutorado) - Departamento de Criminologia da Universidade de Ottawa. Ottawa, 2012. Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/anexos/franco_xavier_jose_roberto_2012_these.pdf. Acesso em 01 dez. 2021.

Downloads

Publicado

2024-06-21

Edição

Seção

Artigos