Narrativas Autobiográficas da Professora Negra Maria Helena Vargas da Silveira: formação e prática docente no livro “É Fogo!”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18316/recc.v24i1.4503

Palavras-chave:

Narrativas Autobiográficas, Professora Negra, Representações, Formação, Docência

Resumo

Este artigo analisa as narrativas autobiográficas da professora negra Maria Helena Vargas da Silveira, no seu primeiro livro “É Fogo”. O objetivo central da análise é, primeiramente, investigar os significados e sentidos que o narrador e a personagem principal, Maria, atribuem às suas experiências de formação e docência no Rio Grande do Sul, entre as décadas de 1940 e 1980. Em segundo lugar, pretende-se mapear e problematizar a intersecção de representações sobre classe, gênero e raça na forma como narrador e personagem principal constroem suas identidades e seus lugares de fala. Em termos teórico-metodológicos, trata-se de uma análise cultural, na perspectiva teórica dos Estudos Culturais em Educação, em que se discutem os conceitos de representação, gênero e raça, a partir de autores como Stuart Hall, Guacira Louro, Marisa Vorraber Costa, Rosa Hessel da Silveira, Gládis Kaercher e Djamila Ribeiro, entre outros. Desta forma, pretende-se contribuir para a desconstrução de representações homogêneas sobre formação e docência e para dar visibilidade às narrativas autobiográficas de professoras negras, que de forma geral têm sido historicamente silenciadas e desautorizadas nas narrativas literárias hegemônicas e na História da Educação. Entre os resultados da análise destaca-se o entrelaçamento da trajetória da personagem principal, Maria, particularmente de suas experiências de formação e prática docente, com o contexto da História da Educação no Rio Grande do Sul. Na direção apontada por outros autores, salienta-se também a interseccionalidade das categorias de classe, gênero e raça nas narrativas autobiográficas desta professora negra, tanto na forma como constrói e dá sentido às suas vivências, na perspectiva individual, de uma escrita de si, assim como, na perspectiva social, das suas relações com às outras identidades que marcaram suas trajetórias de formação e docência. 

Biografia do Autor

Maria Angélica Zubaran, Ulbra

Maria Angélica Zubaran, doutorado em História na State University of New York, Pós-doutorado no Birkbeck College da London University, professora adjunta do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil, Pesquisadora do NEABI/Ulbra, email angelicazubaran@yahoo.com.br

Rodrigo Lemos Simões, Universidade Luterana do Brasil

Licenciado em História, Mestre em História e Doutor em Educação. Professor Adjunto e Coordenador do Curso de Licenciatura em História da Universidade Luterana do Brasil. Tem experiência na área de História e educação, com ênfase em teoria, pesquisa e ensino de história, atuando principalmente nos seguintes temas: teorias da História, ensino de história, memória e educação patrimonial, formação de professores e identidade docente.

Cristina Gamino Gomes Tonial, Universidade Luterana do Brasil

Possui graduação em Ciencias Sociais pela Universidade Luterana do Brasil (2007). Especialiazação em Planejamento do Trabalho Social. Atualmente é professor tutor virtual da Universidade Luterana do Brasil no curso de graduação Ciências Sociais .Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Violência, Globalização, Cultura e Identidades, Elaboração, Avaliação de Projetos Sociais, na área de Gestão Pública nas disciplinas de Cidadania e Participação Social, Democracia, Etica e Cidadania, Politicas e Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável e Organização Política do Estado Brasileiro, Gestão de Projetos. É colaboradora de conteúdo nos cursos de Extensão Universitária - Educador Social - EAD - ULBRA, Elaboração de Projetos Sociais e Projetos para o Setor Publico. Participou do projeto de extensão comunitária EAD - Cinema Negro - Uma abordagem sobre nossas raízes. Mestranda em Educação - Estudos Culturais

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Publicado

2019-04-09

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Artigos