O homo zappiens e o uso dos dispositivos televisuais: possíveis impactos no processo de alfabetização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18316/rcd.v9i18.4102

Palavras-chave:

Alfabetização. Nativos digitais. Tecnologias da Informação na Educação. Homo zappiens.

Resumo

O acesso das crianças brasileiras às TIC tem sido ampliado, porém ainda temos poucos estudos analisando seus possíveis impactos na fase de alfabetização. Objetivo: conhecer o uso doméstico e escolar dos dispositivos televisuais de crianças de duas escolas públicas. Aspectos metodológicos: pesquisa-ação, cuja coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com grupos de professores e de famílias, além de observações participativas no laboratório de informática em duas turmas do terceiro ano do Ensino Fundamental I. Resultados: no ambiente doméstico, a maior parte das crianças tinha o hábito de assistir a novelas e jogar no tablet ou no celular. As famílias acreditam que esses dispositivos atrapalham a dedicação dos filhos aos estudos, associando-os a maior irritabilidade, teimosia, baixa tolerância à frustração e falta de persistência. Tais características podem estar relacionadas aos jogos violentos e ao hábito de “zapear”. Contudo, é preciso destacar que a escola também tem assumido pressupostos do que chamamos “pedagogia zap”, propondo atividades nos livros didáticos ou no computador que favorecem o “zapear” de um tema a outro, comprometendo a aprendizagem. Concluímos que a escola deve orientar os pais e as crianças para um melhor uso dos dispositivos televisuais. Além disso, precisa promover ações voltadas à alfabetização que estimulem a capacidade de atenção, a memória e a persistência, utilizando também os recursos digitais com esses propósitos.

Palavras-chave: Alfabetização. Nativos digitais. Tecnologias da Informação na Educação. Hommo zappiens.

 

The homo zappiens and the use of televisual devices: potential impacts in the process of basic literacy building

The access of Brazilian children to ICT (Information and Communication Technologies) has increased, however, there is still very few studies which analyze their possible impact in the basic literacy phase. Objective: to understand the domestic and scholar use of televisual devices of children from two public schools. Methodological aspects: action-research, whose data collection was performed through interviews with teacher and family groups, apart from participative observations in the information technology laboratory in two Elementary School I third year classes. Results: in the domestic environment, most children had the habit of watching soap operas and playing with and on the tablet of mobile phone. The families believed that this type of device jeopardize children’s dedication to studies, associating them to irritability, stubbornness, low tolerance to frustration and lack of persistence. Such characteristics may be related to violent games and to the habit of “zapping”. However, it must be highlighted that the school has also made assumptions of what we call “zap pedagogy”, promoting activities in the pedagogical books or in the computer which favor zapping from one theme from another, jeopardizing the learning process. It may be concluded that the school should orient parents and children towards better use of televisual devices. In addition, it is necessary to promote actions aiming basic literacy that stimulate attention capability, memory and persistence, also using digital resources for this purpose.

Keywords: Basic literacy. Native digital. Information technologies in education. Homo zappiens.

Biografia do Autor

Claudia Dias Prioste, Universidade Estadual Paulista, SP.

Doutora em Educação. Professora do departamento de Psicologia da Educação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Araraquara, SP.

Referências

ADORNO, T. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Resolution on violent video games. American Psychological Association, Washington, ago. 2015. Disponível em: <http://www.apa.org/about/policy/violent-video-games.aspx>. Acesso em 12 maio 2017.

AUVERLOT, D.; HAMELIN, J.; LEJEUNE, E.; LOYER, J-L. Le fosse numérique en France: rapport du gouvernement au Parlement. Centre d’Analyse Stratégique, 2011.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

BITTMAN, M.; RUTHERFORD, L.; BROWN, J.; UNSWORTH, L. Digital natives? New and old media and children’s outcomes. Australian Journal of Educational, v. 55, n. 2, p. 161-175, 2011.

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Kids Online Brasil 2015: pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil. CGI.br, São Paulo, 01 nov. 2016. Seção Publicações. Disponível em: <https://www.cgi.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-da-internet-por-criancas-e-adolescentes-no-brasil-tic-kids-online-brasil-2015/>. Acesso em 20 jun. 2017.

DESMURGET, M. TV lobotomie: la verité scientifique surles effets de la télévision. Paris: Max Milo Éditions, 2012.

DUFOUR, D. R. A arte de reduzir cabeças. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.

FREUD, S. Introdução ao narcisismo III. In: ______. Obras completas, Tomo XII. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 13-50.

GEE, J. P.; HAYES, E. R. Language and learning in the digital age. London and New York: Routledge, 2011.

HSIN, C.T.; LI, M. C.; TSAI, C. C. The influence of Young children’s use of technology on their learning: a review. Educacional Technology & Society, v. 17, n. 4, p. 85-99, 2014.

KAMBOUCHNER, D.; MEIRIEU, P.; STIEGLER, B. L’école, le numérique et la societé qui vient. Paris: Éditions Mille et une nuits, 2012.

PAGANI, L. S.; FITZPATRICK, M. A.; BARNETT, T. A.; DUBOW, E. Prospective associations between early childhood television exposure and academic, psychological, and physical well-being by middle childhood. The JAMA Network, n. 164, p. 425-431, maio 2010. Disponível em: http://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/383160. Acesso em 24 jun. 2017.

PASSARELLI, B; JUNQUEIRA, A. H.; ANGELUCI, A.C. Os nativos digitais no Brasil e seus comportamentos diante das telas. Matrizes, v. 8, n. 1, p. 159-178, 2014.

PRENSKY, M. Digital natives, digital immigrants part 2. On the Horizont, v. 9, n. 6, p. 1-6, 2001.

PRIOSTE, C. D. O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual. São Paulo: Edusp, 2016.

TÃœRCKE, C. Sociedade excitada. Campinas: Ed. da Unicamp, 2010.

THIOLLENT, M. Metodologia de pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2011.

VEEN, W.; VRAKKING, B. Homo Zappiens: educando na era digital. Porto Alegre: Artmed, 2009.

VIDGOR, J.; LAAD, H. F.; MARTINEZ, E. Scaling the digital divide: home computer technology and students achievement. Economic Inquiry, Western Economic Association International, v. 52, n. 3, p. 1103-1119, jun. 2010.

Downloads

Publicado

2018-01-03